A Musa Suicida
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Em sombras afundaram-se os teus brilhos;
Quão tristes são teus versos, teus amores,
Vês túmulos em canteiro de flores,
Segues, carpindo, por escuros trilhos.
Teus pés, trôpegos, esmagam junquilhos
E no seu rasto vão ébrios trovadores
Cantando a luz de manhãs incolores,
Que mais lembram um bando d'empecilhos.
Tu, infeliz, qual vítima passiva,
À beira do sepulcro que cavaste,
Em dor, pareces mais morta que viva.
Mas, se o amor não venceu, talvez a morte,
A quem, demente, nos lábios beijaste,
No seu horroroso leito te conforte!