Soneto Feio

Soneto Feio

Jorge Linhaça

Alguém me pediu um soneto feio

Como se muitos já eu não tivesse

A pena, às vezes, por fim arrefece

Ficam os versos fendidos ao meio

Ser sonetista por certo eu anseio

Mas no seu caixão Gregório estremece

E o Bocage de mim escarnece

Já o Bilac botava-me arreio

E a Florbela? Por certo me espanca

Assim que as mãos puser-me em cima

Com o Vinicius terei mesma sina

Já o Augusto por certo se espanta

E o que diria Luis de Camões?

Por certo veria de mim só borrões

II

Sonetos feios dum tom imperfeito

Onde lhes falta a chave de ouro

Podem parecer pr'alguém um tesouro

Se o poeta levar algum jeito

Solto meus versos de dentro do peito

À espera que algum seja duradouro

Que não escorra pelo escoadouro

Como outros tantos que já tenho feito

Mas ao praticar, bem menos eu erro

Embora longe da tal perfeição

Hoje me treme bem menos a mão

Muito agradeço, mas pra ser sincero

Mui longe estou eu de ser genial

E ter dos mestres o seu cabedal

Salvador, 13 de agosto de 2012