DESABAFO DE UM REVOLTADO
Marco Aurélio Vieira

Porque jamais bebi da seiva da brandura...
Porque conheço a vil nudez do indelicado...
Porque senti, do injusto, a ardência da ranhura...

Porque entalhei, na carne, a marca do enjeitado...

Meus órgãos berram da ferida que supura
na enferma essência, no meu resto fatigado,
a transfundir-se no semblante de amargura
e a latejar-se nestes vincos, neste estado!

E não me venham com alguma reprimenda, 
pois eu bem sei que, para muitos, vida é prenda,
de tão felizes, não suportam dor alheia!

Eu não condeno as esperanças ledas, lindas,
desejo mesmo que lhes sejam (sempre!) infindas.
Peço, porém, respeito ao triste que pranteia...
 

Resposta:


Desabafo
Edir Pina de Barros

 

Conheço dessa dor que grita no teu peito,
o vil sabor do fel, a força de teu pranto,
a desesperação, depois de tanto encanto,
as marcas do desdém, a falta de respeito,
 
a amarga solidão, que bate quando deito
e ecoa dentro em mim e explode em todo canto,
deixando tanta dor, tamanha sombra e espanto,
tornando-me tão só e amarga desse jeito.
 
Também jamais bebi da seiva da ternura,
porém senti na carne, o fel de tal ranhura,
a ponta do punhal da dura reprimenda.
 
Suporto a tua dor, a imensa dor alheia,
e respeitar, bem sei, o triste que pranteia,
mas não espero, não, que a mim alguém entenda.

Brasília, 26 de Dezembro de 2011.

Seivas d'alma, pg. 26



 
Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado)
Enviado por Edir Pina de Barros (Flor do Cerrado) em 26/12/2011
Reeditado em 16/08/2020
Código do texto: T3407677
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.