Soneto medieval (ou drama do poeta encarcerado)
Escutai, verdugo que me espreita
Das grades desta hostil masmorra
Onde nem um raio de sol se deita:
Bem sei que queres tu que eu morra.
Peço-te: se é este o teu desejo
Se o meu destino te fará cantar
Imploro, aproveitando o ensejo:
Deixai-me morrer olhando o vasto mar.
Se para ti o que digo são palavras loucas
E a tais palavras tens orelhas moucas
E a mim não será dado vislumbrar tal cena.
As horas que me sobram, sei, são poucas
Atentai do povo lá fora às vozes roucas:
“Deixai-lhe, ao menos, papel, tinta e pena".