"SONETO DO DESASSOSSEGO"
Ao acordar o relógio me mostra ter de andar depressa:
A higiene bem rápida e um cafezinho para animar.
Na condução, sempre com excesso, sem que se impeça
Uma das mãos mantém o corpo seguro; a outro, protege do azar.
No trabalho, com os cortes costumeiros pela situação,
Os sustos sempre que lhe convoca à tesouraria.
No passar das horas, num movimento de sofreguidão,
Percebe-se que nesse mês o salário será a mesma ninharia.
Ao retornar ao lar, além de cada problema habitual,
A cabeça soma as contas que no dia seguinte há de pagar:
A escola, o armazém, o açougue... Todos a aguardar.
Já na casa, fora do horário, pelo trânsito congestionado,
As cobranças com insinuações por ele ter demorado.
E à noite, madrugada, mais pesadelos o desassossegam geral.
(ARO. 1995)