A CHAMA E O VENTO
Eu sou chama frágil de vela que dança,
girando à mercê dos embalos do vento
que invade violento o recinto esperança
da casa empoeirada do meu pensamento.
Sou chama de vela que oscila a pujança
da cor que rebrilha no brio nevoento,
distende-se, amplia-se aos ares, balança,
mas quase se apaga sem força e sustento.
Eu, chama oscilante de vela, sem rumo,
que treme inclinada tentando seu prumo
no vento que surra seu lastro e o conduz.
Ó, fechem janelas e portas, suplico!
Pois já não suporto este sopro impudico
do vento covarde que suga-me a luz.