EM NOSSAS RUAS


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... do tempo que ainda não sabia criar sonetos.
Está quase ipsis lítteris. Alguma sílaba aumentada
para efeito de métrica.





EM NOSSAS RUAS

Semi-nua, só veste andrajo e dor
e com carinha de anjo me pedia:
- oi, moço, um troquinho, por favor
desde ontem eu não como, me dizia.

Era jovem e a cobria a maquiagem
do triste abandono, do pó da rua;
do meio que lhe emprestou essa imagem,
... e era bela, assim mesmo, sem-inua.

Essa súplica cruel, mas tão pura,
no dia-a-dia das ruas assoma,
crianças maltrapilhas e com fome.

Diplomas ambulantes da incultura
da sociedade ainda sem aroma;
matéria-prima que o crime consome.


Afonso Martini 
(in Poetas Brasileiros/antologia – Shogum Arte-RJ – 1986)


Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 18/11/2011
Reeditado em 18/11/2011
Código do texto: T3343522
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