"APÓLOGO: O MARTELO E O PREGO"
“-Tu me bates sem cansar, sem dó nem piedade.
Tua covardia deve ser por puro ciúme.
Não sei o que se passa, daí o meu queixume,
Pois eu procuro uma resposta para essa atrocidade.”
“-Não te queixes demais, tu sabes o motivo.
Quanto mais reclamares, serei mais impiedoso.
Tua cabeça não é oca, disto sou consciencioso,
Por isso, faze ela te mostrar a razão, seu inativo!...”
Conversa vai. Conversa vem... E não há pausa:
O martelo sobe e desce; o prego se enterrando
Na madeira... Pouco a pouco vai penetrando.
De repente, num estalo, o prego volta à causa:
"-Já entendei tua dor nas pancadas que me dás,
Tua revolta é que eu viajo, enquanto tu ficas para trás!...”
(ARO. 1992)