IRREPRIMÍVEL




Em menos palavra, seja em mim leve
o alfandegário peso que se adiciona da poesia,
pois não contenho o ato de escrever noite e dia
como quem requer trégua e não consegue.


Registros dispersos — avara simbologia —
transferem o frio desse sol, dor indelével
entalhando na alma desenhos de neve,
e sempre se deitam nas gavetas, à revelia.


Menina-moça nunca trouxera brilho à cena.
Amores do silêncio — acaso de velhice e segredo —,
lidos e bulidos, abrigam-se, ninguém se atreve.


Por fim, jamais se cala irreprimível poema:
oculte-se contudo a razão de que escrevo,
não retenho, em mim, o quanto se escreve.


*Poema reunido no livro "Gênese de Poemas Inversos".

Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 08/11/2011
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