Chapéu estendido
Não quererei a morte porque lá não estás
Não desejarei a vida enquanto tu não me amares
Ficarei no limbo destinado aos poetas
Que é derramar em poesia os males e pesares
Seu olhar é o mais cruel capataz
Tirou-me do calabouço em que podia avistar-te
Lançou-me fora onde as palavras certas
Descrevem o que o espírito meu em dois parte
Perdido, em vagância, o arraial eu corro
Estou sujo, encardido do que discorro
Letras pedintes são minhas mãos de esmola;
Meu coração é o chapéu eternamente estendido,
Seu olhar é aquele senhor ofendido
que me renega, e com a liberdade me isola.