Saudade
Sinto saudade, e é só disso que sinto
Quando, parada, tenho-te no braço
O nosso tempo é longo e faz extinto
Do pensamento, o caos do amor escasso
Sinto saudades, sinto-me faminto
Do beijo ensandecido - um arroubo crasso
Que agora, neste inerte labirinto,
Cerro nos tons lilases do mormaço
Flores perdidas na neblina densa
Triste e estéril e assim (talvez) propensa
A tirar-me dos olhos toda a calma
Quando o teu corpo, há pouco, quente e lesto
Deixar-me a contemplar, à luz de um gesto,
Saudade escura que me doma a alma!