"ANCIANIDADE... O ÚLTIMO QUE FALA"

Hoje meus pés arrastam, arranhando o chão:

Hoje até os óculos são fracos, não satisfazem a visão;

Hoje os braços cansados apóiam somente as pernas;

Hoje a cabeça já branca, só guarda saudades eternas...

Hoje sou o mistério, a experiência atingida:

Hoje no tempo que resta, sou mais uma página esquecida;

Hoje em meu saudosismo, sou edição esgotada;

Hoje minhas rugas registram uma vivência atribulada...

Hoje sou o estorvo para as saídas da família;

Hoje sou a própria solidão, e que ela me preserve.

Eu sou a tristeza e o temor que ninguém compartilha...

Hoje não sou mais que uma preocupação encravada;

Hoje, com tudo o que a vida ainda me reserve,

Eu sou o último que fala, a opinião dispensada...

(ARO. 1993)

Profaro
Enviado por Profaro em 05/11/2011
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