RESTAURAÇÃO


Quisera, em alvoroço, dilacerar-me o outono
e repisar afável o meu destino já concluído
e constatar minhas campinas em abandono
no velho cemitério dos amores entorpecidos.


Pois reprimi sonhos dourados em baús de vime
e guardei, com fúria, o tesouro dos planos.
Mantenho viço o egoísmo, quem me redime
— quem desvanece o arco-íris dos meus anos.


Remorsos, pendurei-os no véu, no absoluto.
Não ressinto a oblíqua tarja posta de meu luto
entremeio nós dois, a estrela e o alento...


...Saíra despida apossar-se dos meus segredos
e rescindir o tempo e o sopro; mas só lhe concedo
restaurar — desatento amor — os meus fragmentos.

Milton Moreira
Enviado por Milton Moreira em 04/11/2011
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