Mar sem rima
A soberana arquitetura d’água
estréia seu ensaio geral na correnteza
de um abismo derramado de mágoas,
submerso e encharcado de si mesmo.
Na rubra dança dos caleidoscópios
foram choradas eras de tristeza
e enredos de horas sem vocabulário,
sem remos e sem rumos e sem rimas.
Os cristais de água travam nossos olhos;
violinos correm pelo som da brisa
e a surda-muda orquestra de instrumentos
toca imensos espaços abissais,
onde as velas nos mastros são candeias
de lembrar pescadores naufragados.