Último flagrante
Fui sempre um estrangeiro de mim próprio,
dos fazeres ausentes despejados
para ermas vastidões de ambos os lados
desse mistério de feitio impróprio.
Quanta vez atei improváveis fios
de tecer noites frias, de procela,
em que o céu, a lua e até mesmo a estrela
Vésper blasfemavam culpas e arrepios.
Os espelhos de seda brilham gritos
de qualquer dor antiga renascida
que em tudo perscruta olhos aflitos;
pressente a estranha sombra insinuante
que, esquiva, esconde a mão à despedida,
mas não escapa ao último flagrante.
(Publicado originalmente no Primeiro Programa (www.primeiroprograma.com.br/site/website) em junho de 2011.