CXXXVIII Soneto (Shakespeare)
Se meu amor diz-s' feita só d'honestidade,
eu nela acredito, ainda que me minta
ainda que me veja como jovem sem prumo
inexperto nas falsas verdades do mundo;
pensando'assim que'ela me quer menino,
embora saiba qu'se me foi'a mocidade,
eu endossarei sua língua falaciosa
e em ambos os dois s'aniquila'a verdade;
porém, de que lhe serve seguir fingindo?
E de que me serve não confessar a idade?
'Scuta:'o melhor p'r'o'amante é crer por princípio.
E'os anos no'amor calam adrede'a velhice.
Por isso eu consigo minto'e'ela comigo;
e nas falhas, por mentiras, perfeições fruimos.