Medo
Vivo a indagação do próprio medo.
E estou perplexo de uma descoberta,
que é a dúvida que em nós desperta
e, acusadora, aponta-nos o dedo.
Nessa nossa vã viagem clandestina
a invenção dos bilhetes de partida
vem a cada outra noite pressentida
numa estação distante e peregrina.
Andei vagando de esquina em esquina
só vadiando o voraz vazio da vida
e, hoje, a mim eu nada mais concedo.
A penumbra lacrou minha retina
e agora eu mesmo sou a despedida.
Vivo a indagação do próprio medo.