"ESCRACHO" -sonetos duplos-

Esta palavra é como uma flecha -/- Se o meu verbo é um escracho

Que nunca terá aquele alvo fixo -/- Nestas letras não tem capricho

Num português um tanto micho -/- E minha voz, é só um relincho

Que nesta hora aqui se encaixa -/- Deste ente que é seu capacho

E assim eu procuro uma brecha -/- A lacuna d'alma como um racho

Para que ao verso, venha fluxo -/- Que assim, me difira d'um bicho

Falar da mente e não do bucho -/- Para não deixar nenhum rabicho

Escrever bem claro, nesta faixa -/- Mas, com a fluência dum riacho

E se no meio de todo esse lixo -/- Bater no corpo como fria ducha

Não enxergar no mais fino luxo -/- Que vai apagar todo esse facho

Tudo que eu falo não tem nexo -/- Qual se reverbera a um refluxo

Sei qu'eu rolaria como um seixo -/- Nessa minha voz, boca murcha

De tantas pedras que aqui puxo -/- São tantas nas letras que acho

Que não será mais outro reflexo -/- Da alma desse seu velho bruxo

Valdívio Correia Junior, 04/10/2011

Caros amigos, chamo de juneto, os "sonetos" de rima única ou de duas rimas, quando estas têm terminações, sons e fonemas parecidos, além da estética e da mensagem, vale a brincadeira com a sonoridade das palavras. Estes duplos, são dois textos distintos, mas que também podem ser lidos como um único texto, sem que mude a ideia, são independentes, mas interagem. Obrigado!

Juninho Correia
Enviado por Juninho Correia em 04/10/2011
Reeditado em 24/06/2016
Código do texto: T3256439
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