"MESMO SENDO O QUE SOU"
Não me agrada o espelho, pois com o tempo que passa
Vejo mais cabelos brancos, sinto perder a graça.
Não mais me convém o relógio, pois nele só vejo o passado:
Segundos da vida perdidos, não mais serão registrados.
Não gosta das fotos guardadas, daqueles anos dourados
Vendo-me de roupas largas, que não teria usado.
Não me mais bela a noite, o luar, a escuridão,
Pois é com sua chegada que sinto perder a visão.
Não mais me atrai o futuro, se mais da metade já vivi.
Não quero contar os dias que ainda poderão me surgir.
Não quero me antecipar e sofrer pelo que nunca senti.
A morte, dizem: é descanso, traz outra vida sem dor...
Enquanto nesta me encontrar, embora sendo o que sou,
Eu me recuso a perdê-la, e seja lá pra o que for.
(ARO.1991)