TAGETES CAPITOLINA
“Trabalhei em vão, busquei, catei, esperei, não vieram os versos. Pelo tempo adiante escrevi algumas páginas em prosa, e agora estou compondo esta narração, não achando maior dificuldade que escrever, bem ou mal. Pois, senhores, nada me consola daquele soneto que não fiz. Mas, como eu creio que os sonetos existem feitos, como as odes e os dramas, e as demais obras de arte, por uma razão de ordem metafísica, dou esses dous versos ao primeiro desocupado que os quiser. Ao domingo, ou se estiver chovendo, ou na roça, em qualquer ocasião de lazer, pode tentar ver se o soneto sai. Tudo é dar-lhe uma idéia e encher o centro que falta. “
Dom casmurro
Oh! flor do céu! oh! flor cândida e pura
que desabrochaste no languido pântano da morte
iluminando a fronte dos cadáveres com tua alvura
e sobrevivendo da matéria podre, que a cercava por sorte
oh! Flor do céu, sobreviveste onde ninguém mais vingou
é a esperança perdida da guerra, onde tudo encontrou um fim
é a seiva dos mortos, e odor de sua juventude que minguou
é a brancura dissimulada da paz, a única vida entre os mortos deste jardim
oh flor! oh flor! Semeais a vida por onde for
arrancais os podres espinhos do nosso fracasso infinito
recomecemos, chega de morte, loucura e de dor
oh flor, sede dos derrotados sua mortalha
e no fim os envolva obliquamente em teu mito:
Ganha-se a vida, perde-se a batalha!
obs: O primeiro e o ultimo verso são de machado