Para Lúcia
De minha triste e infame fase ginasial,
Carrego ainda comigo estranhas cicatrizes,
Mas possuo também certas memórias felizes,
E uma delas conservo de modo especial.
Fui colega de Lúcia, uma feia garotinha
Que em lugar de cada mão possuía um coto
Vivia encarquilhada, com um sorriso roto
Afastada de todos e quase sempre sozinha.
Escrevia c'um lápis na pulseira, acoplado
Caminhava devagar, encurvada na maneira
Mas não se cansava de sorrir a vida inteira
E eu sorria sempre em retorno, contristado.
Então, certo dia, saí do corpo (em espírito)
E me pus e conhecer e trabalhar, solícito
Em imenso e belo hospital da Vida Astral.
E lá atuando, divisei Lúcia, compenetrada
Com maozinhas luzidias e feição encantada
A denotar incrível padrão de beleza moral!