A Maçã e a Poesia

A Maçã e a Poesia

Maçã foi só maçã porque convim.

Olhei-a ontem qual só olhasse um fruto.

Eu fui tão mau, com pensamento enxuto,

Adormeci a poesia em mim

Então a fiz prestar-se, num minuto,

A ter seu mais desapontado fim.

Pobre maçã, que anteontem vi carmim,

Calíope, afã, jasmim... Foi só um soluto...

Mas eu, que até do breu já trouxe o dia,

Como da aurora, em facho, a escuridão,

Hoje pensei: “Maçã, não foste em vão!

Meu coração te gesta, e estás crescida...

A mão que outrora te embotaste a vida

É a que te extrai, te aflora em poesia!”