VINDIMAS AZEDAS
Esse travor na boca que tanto me embarga
Vomita mostos e acidezes letais
Provindo de uma colheita de casta amarga
De um solo donde raízes rastejam ais.
Amarga-me o tinto e o que sinto me engasga
Servem-me um néctar azedado e espumoso
Que tão logo que eu sorvo a garganta se rasga
Vindimas colhidas de um terreno ardiloso.
O sol que viera prometeu-me doçura
As ramas fecundas se encharcaram de bagos
Prometia uma safra de grande fartura.
A cantina se encheu retinta de esperança
O aroma que vinha embriagava o meu baco
Mas malgrados barris azedaram a festança.