Soneto XVII
Se tens saudades dos sonhos olvidados
e, túrbido, te consome teu coração
resserrado e verte as tristuras do passado,
de que profundo sorvedouro vem essa aflição?
Se tua doce lira jorra versos perolados
numa quentura luminar, sem contenção,
e arvorejam-se em tu’alma serafins apaixonados
onde retouçam em total contemplação...
Se eu conseguisse te mudar num rouxinol
e esconder-te entre a rama lisonjeira
só pra ver-te cantar os teus amores...
Decifraria os mantrans do teu sutil bemol,
e os dissonantes que toquei a vida inteira
seriam poucos para cantar-te meus louvores.