O grito
Seja isto sadomasoquismo ou não,
nesta imagem de dor que não desmancha
ouço o grito de Munch: é como a mancha
que filtra o medo em toda solidão.
Desse olhar de cão guia, as quatro patas
hão de enterrar meus ossos, já cansados,
no campo onde se inumam degredados
sob as bandeiras de navios piratas.
A vaidade rasgada, vã e ancha,
a gemer igual flandres na trancha,
tinge de sangue a arrebentação.
Na andrógina angústia de acrobatas,
somos sobra da sombra das sucatas
de um ímpio rabo que perdeu seu cão.