Na Janela
Minha rua tem um sol que passa fora o dia,
a trabalhar, certamente, num lugar banal.
Esse sol é uma mulher, morena, esguia,
que transformei no meu verso e meu ideal.
Esse sol vai sempre só. E é só que vem.
Sempre regressa, sempre sem ninguém,
o que me deixa pensar que, como eu,
um grande amor também ela esqueceu.
E quando ao entardecer, a minha rua
vai na penumbra do ocaso mergulhando
e desfocando os contornos de quem passa,
eu reconheço ao longe a silhueta tua
que caminha apressada, e ignorando
quem tanto te quer bem, junto à vidraça.