GAIVOTA
(Inspiração colhida no belíssimo soneto «Se o fado permite...» do exímio poeta Afonso Martini)
O sonho é próximo ao canto da sereia,
Ilude através do seu imenso disfarce,
De mim se esconde, não mostra sua face,
Engana quem por ele clama e anseia…
É raio de sol, m'ilumina com sua luz,
Solta-me ao vento, minhas asas embala.
Junto ao meu coração, suave, fala…
Engano-me, se penso que me conduz…
Ah, ilusório sonho! Não vês mais o viço
Da jovem e alegre gaivota d’outrora!
Hoje voa, cansada, n’outro espaço,
E, com o vento, as ilusões vê ir embora…
E n'alma que, um dia, foi leda e inspirada,
A dor não grita… permanece calada!
(Fado: «Gaivota» - Amália Rodrigues)
Ana Flor do Lácio (26/08/2011)