MOMENTOS DO MENOR ABANDONADO
MOMENTOS DO MENOR ABANDONADO
(EM S O N E T O S)
ÍNDICE:
.ORAÇÃO..............................................................................-02
.ENSINANDO-ME A VIVER.........................................................-04
.SONHO DE CRIANÇA VIVA.......................................................-06
.FALE MENOS........................................................................-08
.TAMBÉM FAÇO PARTE DO MUNDO............................................-10
.SE PERGUNTASSEM ÀS CRIANÇAS............................................-12
.EU SOU SEM SABER..............................................................-14
.NÓS TAMBÉM SOMOS GENTE..................................................-16
.SOZINHO ATÉ NA AGONIA......................................................-18
.ESPERANÇA DA CRIANÇA........................................................-20
.SEM QUALQUER EXPLICAÇÃO..................................................-22
.PROMESSAS DE CRIANÇA.......................................................-24
.POR QUE MEREÇO ESSE DESPREZO?-........................................-26
. ADEMIR
. RÊGO
. DE
. OLIVEIRA
ORAÇÃO “
Meu Senhor, eu não sou triste.
O que se passa é que este momento resiste.
Eu não vejo motivo de sorrisos, só lamentos.
Afastai de mim este cálice de tormentos!
Meu Senhor, a paz que se cogita nesta terra,
Eu busco em cada canto, mas a busca se encerra
Quando eu vejo diante de mim tanta abstração.
Por isto, eu Vos rogo, estendei-me vossa mão!
Meu Senhor, grandeza maior deste universo,
Importai-vos com o que clamo nestes versos,
E permiti que eu receba um grão de carinho.
Meu Senhor, será que há algo pior que estar sozinho,
Abandonado ao tempo, entregue à desesperança?
Pai, acordai eles, que também já foram Crianças!
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“ ENSINANDO-ME A VIVER “
Creio que a vida só dá futuro se o berço foi de ouro.
É o que me faz crer cada gente que conheço,
Pois cada um pra dar a mão, antes fala de seu preço
Fazendo crescer na terra o já herdado tesouro.
Quem é farto já nasce feito, disto tenho certeza,
Pois de trabalho, nesta terra, jamais alguém foi vencedor,
Inclusive, eu percebo que se o próximo é da “cor”,
Ele será massacrado nessa máquina de realeza.
Parece-me até que ser pobre aqui é uma doença,
Já que a massa nos evita e não quer nossa presença.
Como se fosse algo transmissível, ela lhe gera temor.
Diante de tudo que vejo e sinto neste ensinamento,
Entristece-me o fato de ainda Criança, no momento,
Ter de passar por tudo isto, abandonado e sem amor.
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“ SONHO DE CRIANÇA VIVA “
“ Sonhar não custa nada “ – já foi dito com prioridade.
Talvez até independa do quanto se tenha de idade,
Talvez até mesmo não se cogite de um futuro melhorar,
Pois a busca do presente descente, faz-se necessitar.
Senhor denota uma esperança, em plena vida,
Pois o sonho é a página que se integra à saída
De se lutar por algo expressivo, e que a pena venha valer,
Pois a busca de um espaço é motivação de todo ser.
Sonha o Velho, sonha a Criança: todos se fazem sonhar
Quando o ideal é distante, quando a verdade é cruel,
Mas que se saiba ser a vida desenrolando seu papel.
Sonha o Velho no fim da vida, após a vida passar.
Mas o sonho da Criança, quando a vida não lhe motiva,
Visa, acima de qualquer sonho, torná-la Criança viva...
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“ FALE MENOS “
A vida mal começou, e eu já tenho cicatrizes:
Marginalizado eu já me vejo, antes de um julgamento;
Rejeitado eu já me encontro, desde meu nascimento,
Embora também saiba que o mundo fala em diretrizes.
A vida mal começou, e eu já sou um coitadinho:
Vigiado eu sempre estou pelos olhos da sociedade;
Perseguido, se me deparo, logo busco outra cidade,
Embora não me achem com direito a um lugarzinho.
A vida mal começou, e eu já lhe faço desdenho:
Pois meu espaço nela não acho e até penso que não tenho,
Embora seguidamente as pessoas façam alardes.
A vida mal começou, e eu já acho que foi tarde:
Pois o senhor que tem o poder, e ela poderia corrigir,
Faz dela seu trampolim para na vida ele subir.
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“ TAMBÉM FAÇO PARTE DO MUNDO “
Todo mundo precisa ter um espaço aberto pra viver,
Se todo mundo de Deus é filho, e Ele não é empecilho.
Todo mundo precisa ser amado sem ter que sofrer,
Se todos seguem no trilho que lapida o andarilho.
Todo mundo quer atenção, quer ser tratado como irmão,
Se o Pai não faz diferença, e o Filho nos deu sua presença.
Todo mundo quer união, quer o caminho da salvação,
Se for esse o motivo que convença ter o mundo uma sentença.
Todo o mundo corre atrás de uma vida que lhe satisfaz,
Pois é ela o elo da corrente que leva ao reino do Onipotente.
Todo mundo busca cair nas graças que hão de vir.
Todo mundo só não percebeu que não é só o filho seu
Que é merecedor de um carinho e precisa de um cantinho.
Todo mundo precisa saber que eu também preciso viver.
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“ SE PERGUNTASSEM ÀS CRIANÇAS “
Se perguntassem às Crianças o que lhes traz prazer,
Por certo a maioria dissesse o que gosta de fazer;
Um grupo menor diria ser aquilo que é proibido;
Mas alguém se permitiria citar um duro castigo
Se perguntassem às Crianças o que lhes traz alegria,
Pouca coisa, com certeza, afirmará a maioria;
Outro grupo relacionará atividades materiais;
Mas alguém não se esquecerá de mencionar os seus pais.
Se perguntassem às Crianças o que lhes põe entristecidos,
Mais da metade confessaria ser o seu meio de vida;
Mas alguém mostraria que é por ser abandonado.
Se perguntassem às Crianças o que anseiam no futuro,
Todas seriam convictas: gostariam de um lugar seguro;
E ainda alguém completaria: também quero ser amado...
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“ EU SOU SEM SABER “
Eu sou o céu, eu sou o inferno; sou a brisa e a tempestade:
A graça em vida ao nascer; a desgraça na separação;
A quietude e o prazer do lar em comunhão;
A desavença e o martírio se eu fui fruto da casualidade.
Eu sou a vitória, eu sou a derrota; sou o prazer e o desgosto:
A busca eterna da alegria; a dor da intranqüilidade;
A motivação que contagia com toda serenidade;
A peregrinação na estrada na qual se viu posto.
Eu sou a promessa, eu sou o engano; sou, mas não mereço:
A força viva, a luz que afasta a solidão;
A aventura desgovernada na descontrolada paixão.
Eu sou o mistério, eu sou o engano; sou sem ter preço:
A criatura na qual Deus dá seguimento à vida;
A penitência humana da vivência perdida.
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“ NÓS TAMBÉM SOMOS GENTE “
Qualquer derrota se torna um caso decidido
Quando não se crê em si, nem há apoio.
Nós também somos gente, tal como o joio
Que medra junto ao trigo, mas que deve ser banido.
Qualquer futuro se torna uma simples ilusão
Quando não existe base, nem se prevê esperança.
Nós também somos gente, ainda que crianças,
Que trazem no peito a vida, mas sem inspiração.
Qualquer direito se faz uma terrível dor
Quando não se vêem conservados os deveres.
Nós também somos gente, ainda que sem poderes.
Qualquer emoção não se qualifica ao amor
Quando não se preservam os laços humanitários.
Nós também somos gente, embora digam o contrário.
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“ SOZINHO ATÉ NA AGONIA “
Já não me interessa se existe outro mundo, outro lugar,
Se já não tenho garantias de que nele tudo vai mudar,
Quando neste eu já sofro as penalidades por nascer
De pais separados, e que de mim não quiseram saber.
Já não me importa seguir o caminho da salvação,
Pois nada tenho a perder se não existe perdão
Quando o mundo já me condenou a viver os dissabores
De não conhecer amigos, de me eternizar de favores.
Já não me convence ninguém de que no túnel há uma luz,
E que ela me será a força, o conforto, e até uma razão
De que ainda terei a graça de encontrar a alegria.
Já não me incomoda até, de esta vida na cruz,
Perdê-la antes da hora, por conta da peregrinação
Que estou, sem alguém que compartilhe desta agonia.
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“ ESPERANÇA DA CRIANÇA “
Eu não quero ser só uma esperança
Só porque eu sou apenas uma Criança.
Eu preciso de um teto, uma espaço aberto,
Mesmo que tenha as estrelas por perto.
Eu não quero ser só um mau momento
Que te seja dado para teu bom procedimento.
Eu preciso de uma mão e de um abraço fraterno,
Mesmo que ele não me seja eterno.
Eu não quero ser só uma tábua de salvação
Ajudando ao mundo a uma vida de eternização
Pelos poucos segundos: segundos legados.
Eu não quero ser só o amuleto de sua sorte,
Atenuando sua hora, até mesmo a de sua morte.
O que eu quero e preciso é não estar abandonado.
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“ SEM QUALQUER EXPLICAÇÃO “
Creio que não houve queixas nem dor,
Deve ter sido um momento de puro amor.
Creio que nenhum dos dois se arrependeu
Enquanto durava o que aconteceu.
Creio que foi uma união de corpos normal
Entre beijos e carícias, num ambiente ideal.
Creio que nenhuma razão foi desprezada
Conquanto nada se passou de forma errada.
Creio que tudo fluiu a gosto do prazer
Cercado de sentimentos e encantos.
Creio que jamais se deu lugar ao pranto.
Creio em tudo, e muito mais queria crer,
Mas me impede esta crença o que ora passo,
Desprezado por eles, jogado no espaço.
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“ PROMESSAS DE CRIANÇA “
Eu queria ser o Presidente do Planeta Terra
E só assim, com certeza, não haveria mais guerra.
Se eu fosse o Governador maior de meu País,
Ali não haveria pobreza, seria todo mundo feliz.
Eu preciso me tornar um Prefeito bem popular,
Pois com astúcia e controle todos iriam lucrar.
Se eu pudesse ser um Representante com autoridade,
O meu bairro não teria motivo para marginalidade.
Eu gostaria de ser na minha rua a voz da experiência,
Talvez assim, neste lugar, não se veria violência.
Aqui seria um Porto-Seguro, o centro das atenções.
Mas, para tudo isto, antes até de ensinar estas lições,
Primeiramente, seria urgente, a sua casa assumir,
Encher-lhe de amor e carinho, e a família reunir.
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“ POR QUE MEREÇO ESSE DESPREZO ? “
Esse povo me cobra, e isso me faz entristecido,
Porque eu não sei o que devo ao mundo.
Cada olhar que percebo me deixa despido,
Parece até que sou o próprio mal: um vagabundo.
Essa gente não me esquece, nem me acolhe.
Cada passo que dou, tem alguém me olhando;
Se começo a sofrer, não há quem me console.
Parece que sou a razão do que está lhe incomodando.
Essa multidão me aterroriza e me irrita
Já que suas caras feias só demonstram o seu desprezo
Pelo que não fiz, e nem ao menos sei se farei.
Essas almas não me enganam, não são benditas,
Nem ao menos o purgatório lhes será coeso
Se me condenam ao abandono pelo que não errei.