Soneto do Grande Inimigo

Tenho na vida um mui grande inimigo,

Um monstro vil, feito inteiro de escombros,

Que a luz me apaga ao vir dormir comigo,

E cai, disforme, por sobre meus ombros.

Ele ora pede, ora me doa abrigo...

No espaço, dança a doce valsa infame,

Enquanto eu durmo por entre o enxame

De sonhos mortos que há em meu jazigo.

A besta alada não mais vocifera...

Rebrota a flor, a trágica quimera,

E o triste fado volta a ser só meu,

Pois é manhã de novo em minha casa.

Recolho as asas vis, ainda em brasa,

E esqueço, mudo, que o monstro sou eu!