Soneto do Cão
O cão que ladra em mim, raivoso,
É feito, todo, de desilusão;
E seu rosnado, parco e rancoroso,
É o fruto podre de minha aflição.
O meu amigo-inimigo, o cão,
É o que carrego de vivo em minh’alma,
Para omitir do mundo tanto trauma
E tanta vida presa à escuridão.
Se acaso eu chorar, será Atroz,
O cão-remorso, que, rosnando só,
Tenta arrancar-se de meu peito, aflito;
Porém, se ouvirem, rouca, alguma voz
Cantando um hino de encontro ao pó,
Não serei eu, pois já me precipito.