A um canalha
Canalha que não paga o chão que pisa,
para quem a palavra nada vale,
não tem nenhum pudor que lhe resvale
pela face dissimulada e lisa.
Eu vos desejo bons anos de doença;
que o azar não o poupe ou discrimine
de, por tal vida de mentira e crime,
ter o câncer atroz por recompensa.
Se Deus quiser há de chegar o dia
que ao vos ver na rua como cão vadio,
a padecer de frio e dor e sede,
ganindo as fomes dessa antologia,
serei então piedoso e direi: Vê-de,
toma esta esmola; o prato está vazio.