A Cela

Eis que minh’alma me acorda à noite alta

E, angustiada, pergunta onde eu deixei

A centelha de vida, e onde guardei

O remédio que aplaca a tua falta.

Pois por mais que meu corpo se adormeça

E se olvide ele um pouco de tua ausência,

Nada faz com que minh’alma te esqueça,

Visto que dela és tu a própria essência.

E um debate inumano é pois travado

Entre a alma e o corpo em que habita,

Confrontando a matéria e o impalpável.

Meu cansaço me deita, assim, de lado...

E a minh'alma, uma louca, rola e grita

Em sua cela, esse amor inalcançável.