SONETO ELÁSTICO
SONETO ELÁSTICO
- A. Tito Filho -
Um estudante enviou à namorada:
Assim como o inglês adora o chá,
Como o homem da roça ama o café,
Como o moleque quer ao busca-pé
E o baiano aprecia o vatapá,
Assim como o melado ama ao cará,
Como o vigário gosta do rapé,
Como o soldado preza o seu boné
E o poeta estima o sabiá,
Assim como a criança ama o cri-cri,
Assim como o careca ama o chinó,
Assim como o marujo ao parati,
Assim como o guloso ama o pão-de-ló,
Assim também te adoro muito! Chi...
Casa comigo, tola, e verás só!
A menina leu os versos e deu esta resposta:
Sem ser inglesa também tomo chá,
Sem ser roceira gosto de café,
Sem ser moleque adoro o busca-pé,
Ser sem baiana como vatapá,
Sem ser melado gosto de cará,
Sem ser vigário tomarei rapé,
Sem ser soldado já usei boné,
Sem ser poetisa adoro o sabiá,
Sem ser criança brinco com cri-cri,
Sem ser careca tenho meu chinó,
Sem ser marujo estive em parati,
Sem ser gulosa como pão-de-ló...
Mas, casar com você! Que asneira! Chi...
Procure alguma tola ou viva só.
O estudante já se preparava para escrever outro soneto quando recebeu do pai da moça este recado:
Tu sabes que o inglês adora o chá,
Assim como o roceiro ama o café,
E que o moleque estima o busca-pé,
Assim como o baiano ao vatapá.
Tu sabes que o melado ama o cará,
E que os vigários gostam de rapé,
Assim como o soldado ama o boné
E o inspirado poeta ao sabiá.
Tu sabes que a criança ama o cri-cri,
Que o careca faz uso do chinó,
Que o marinheiro bebe parati,
Sabes que ama o guloso o pão-de-ló,
Mas não sabes, talvez, que resolvi
Dar-te uma boa sova de cipó!
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Do livro “Mensagens para A. Tito Filho”, Edição da autora, Teresina, 1997, páginas 11 e 12.
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