SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA

. Chagas da Pobreza I. – Comida à Mesa

. Chagas da Pobreza II. – Sempre mais Um

. Chagas da Pobreza III. – Aborto

. Chagas das Pobreza IV. – Marginalização

. Chagas da Pobreza V. – Vida Fácil

. Chagas da Pobreza VI. – A Incerteza

. Chagas da Pobreza VII. – Mundo de Frustração

.........................

A D E M I R

Ê

G

OLIVEIRA

...............................

“ SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA “ –( Comida à Mesa )

Vem pra dentro, menino, é hora do almoço!...

Traga junto a farinha, que é do teu gosto.

Mãe, todo dia, só arroz, farinha e feijão?...

Não tem por acaso, um pedacinho de pão?...

Essa cena (não sena ) é rotina maior,

Acontece todos os dias, na camada menor.

Dentro de alguns metros quadrados, por moradia,

Toda uma família, inclusive o cão, o gato e a tia.

Comprimida de espaço, até para respirar,

Sempre fica algum sentindo a falta de ar,

Consolados na dor de ser a maioria.

São esquecidos do mundo, é questão social,

Pois a vida está cara, e o patrão anda mal

E não pode mudar nada, nem fazer auforria...

.........................................

“ SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA “ – ( Sempre mais Um )

Naquele barraco, não se vê televisão,

Sua luz é de vela, às vezes de lampião.

Após horas na obra, chega o chefe cansado,

Sua maior intenção é ficar isolado.

Vem a mulher, amiga e cheia de amor

Oferece a pinga, que lhe levanta o pudor,

Não lhe importa a marca, pois tudo é “caninha”

E foi o que pôde comprar naquela barraquinha.

Após saborear a comida, a mesma do dia-a-dia,

Se refresca na água que está numa bacia,

Ele ainda recebe os carinhos da mulher incomum.

Entre beijos e abraços, um esquecimento ingrato:

A pírula que não tomara, antes daquele ato.

E tempos após, deu à família mais “Um”...

..................................

“ SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA “ – ( Aborto )

Sendo dois, a vida já era maratona.

Por descuido, vem o terceiro à tona.

Como sendo o primeiro, seu virtual sucessor,

Deu-se-lhe tudo, isto é, todo amor.

Por razões desconhecidas, da família é o terceiro,

Já estava tão grande que só sairia inteiro.

E chega o “Júnior”, apesar da situação,

Mas que se há de fazer se veio sem intenção?!...

Tempos idos... anos passados, e acontece outra vez.

E já são algumas vidas: umas quatro talvez...

Que se foram para sempre sem saberem o motivo.

Abortados dessa vida por pura precaução,

Visto que não lhes viam nenhuma projeção

Para crecer mais a família, sem pode aquisitivo.

..............................

“ SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA “ – ( Marginalização )

Nasce uma vida, e pulsa seu coração,

Pois não é vegetal, nem é de pedra sua composição.

Foi curtido no início, acompanhado ao surgir,

Mas por exigências do destino, o pai nem viu partir.

A mãe, por muito tempo, viu-se também o homem.

Teve a sua vez, e a família se consome.

Fica um fruto, ainda verde, sem saber da vida,

Nem mesmo o sabe que a perda seria sua ferida.

Junta-se a outros de igual comportamento:

Vivem sós, separando lixo, aproveitando o alimento

Que sobrou de alguma mesa de fartura social.

Junta-se a outros: ignorantes dos mistérios do mundo,

Que não sabem das leis, daí irem com toda sede ao fundo.

E, de repenrte, sua foto o qualifica de ser um marginal

..................................

“ SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA “ – ( Vida Fácil )

Trabalhar é importante, todos sabem o porquê,

Pois vem dele todo fruto que se faz por merecer.

Dá ibope, traz amigos, sem mesmo alguma razão,

Pois o tempo o levou ao cume da posição.

Isso é fácil de dizer; difícil é ter isso em prática,

Para quem nunca estudou, e só conhece a “automática”;

Cujos “amigos” foram os colegas de anos na Funabem,

E que soube o valor de receber um parabém.

Quanta moleza e facilidade, o entrar e o sair,

Bastando apenas ser rápido, e não se deixar trair,

Pois todos slhe são inimigos, e ninguém sua testemunha.

Se o que vem fácil, fácil também se vai,

Importanto que o primeiro, sempre se sobressai,

E não há prisão neste mundo como a carne e a unha...

.....................................

“ SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA “ – ( A Incerteza )

Ontem fui discriminado, nunca quis estudar.

Ainda ontem, rejeitado, por não querer trabalhar.

Mesmo ontem, o sentimento não me fez de rogado.

Lembro de ontem por não ter tido ninguém ao meu lado.

Hoje, conheço apenas os colegas da prisão.

Juntos passamos dias, numa luta contra a solidão.

Agora que estou fora, sem saber pra onde ir,

Não tenho rumo, nem família, para as dores repartir.

Dizem que o amanhã para todos será melhor,

Não importando o passado, mesmo tendo sido o pior,

Conquanto se tenha junto alguém que o admire.

Saindo estou desta vida, e é o que eu pretendo,

Porém não vejo luz, nos disjuntor que acendo,

Então a incerteza me cala para que eu não pire.

..................................

“ SETENÁRIO DAS CHAGAS DA POBREZA “ – ( Mundo de Frustração )

O menino ao nascer, já possuia padrinhos,

Lavou o pecado original, ainda garotinho.

Ainda também muito novo, logo após o engatinhar,

Já procurava bancos escolares, querendo estudar.

Na sua tenra idade, seu futuro já planejava;

Sua mente ia longe, pouca coisa não bastava:

Seria médico, ou engenheiro, talvez até um professor...

E crescia o rapazinho com o objetivo promissor.

Quando da vida já entendia, viu o futuro num papel.

Sua mente se abria como a nuvem mostra o céu.

Frustração à vista ele sentiu, apesar de adolescente.

A família, muito carente, e todos tinham que ajudar,

E seus sonhos de menino cederam ao verbo trabalhar

Trazendo-lhe indignação, até por ter nascido gente...

Profaro
Enviado por Profaro em 17/07/2011
Código do texto: T3100756
Classificação de conteúdo: seguro