PALAVRA - (8 SONETOS)
Palavra I
A palavra que foi a primeira,
Foi a mais importante dos tempos,
A dona da ação verdadeira
Foi sopro na ausência de ventos
Som e ação da hora criada,
Foi palavra nascida inteira,
O amor principia a escalada,
Silencioso, à sua maneira.
A seguir, foi distribuída
Aos seres que a utilizariam
No intuito de ser lapidada,
A palavra que se falasse
Seria um gesto de cortesia,
Caso o uso assim dela fizessem...
Palavra II
Mas o tempo que traz lembrança
É o mesmo do esquecimento,
A fala aprendeu-se criança,
Mas o ato veio no crescimento.
E ela, que trazia confiança,
Perdeu-se no próprio momento,
Nada tinha de esperança,
Minguava a luz, crescia o tormento.
E o sentido, vindo da infância,
Associa-se a um complemento
Que furtou a palavra e a elegância,
Exaltou-se o lado egocêntrico,
Cresce a má fé, junta à arrogância,
Não existe mais contentamento.
Palavra III
Assim, toda palavra dita,
Percebida é como agressão,
Nunca mais se ouviu a bendita,
Não se dá mais a ela atenção.
Cada um traz a sua desdita,
Cindiu-se da palavra a ação,
Quando ouvida, sempre conflita,
E carrega imprópria emoção.
Aquele que lembra não esquece
Do momento da criação
A memória se compadece,
E renova a nova intenção:
Conquista é o que merece
Quem vive com obstinação...
Palavra IV
Porém só vontade não basta,
P’ra andorinha fazer verão,
O grupo maior sempre afasta
Quem enfrenta uma situação...
O rejeitado luta e arrasta
Essa sua firme convicção,
Vê que a sorte não é madrasta
E aprimora a sua boa dicção.
E tratando bem a palavra,
Sente uma certa emoção,
Nota que de si desencrava
Um bloqueio, uma inibição,
Que na sua garganta causava
Falha da comunicação.
Palavra V
Palavras sendo bem tratadas,
Retribuem com gratidão,
Fazendo-se multiplicadas,
Colocam-se à disposição.
E quem assume essa maneira,
Vai galgando sua posição,
Fruto de fazer verdadeira
A consciência da criação.
E sendo da palavra o amigo,
Ela mesma lhe ensina a forma
E nunca lhe negará abrigo,
No sufoco, vem e contorna
O problema, que é resolvido
Tão bem, que ao amigo conforma.(*)
(*) faz adequar-se, concilia.
Palavra VI
E o uso do vocabulário,
Provoca conscientização,
E não tem dono o relicário
Do baú que é só emoção.
Palavras farão o dicionário,
Essa precisa relação
Delas todas, pois do contrário,
Perder-se-ia sua intelecção.
Grande é a expressividade,
Histórica é a formação,
Nunca há falta de qualidade,
Resultam da depuração
Que o tempo teve liberdade
De ouvir o bom tom e o bom som.
Palavra VII
Palavra que se pronuncia,
Habita paragem do ar,
E nesse local vivencia
A espera até alguém lhe citar.
Ano ou mês, semana ou dia,
A espera é melhor que faltar,
Freqüência não é garantia,
Poderão se banalizar...
Bom uso é com parcimônia,
Fugir de se elitizar,
Seu uso só em cerimônias,
É o passo p’ra vê-la chorar,
Continua na mesma colônia,
Um dia dela irão se lembrar.
Palavra VIII
Palavras, se não escritas,
No seu princípio ficam
Boiando sobre o papel,
Simples ou eruditas.
Daí em frente, faladas,
Sujeitas são aos ventos,
Fator que a elas propaga,
E o sopro que as apaga.
Tônica faz o acento,
De toda que é esdrúxula,
De fábula e de bruxa,
Na lápide ou cimento,
Grafadas são, e, sem luxo,
Registram nascimentos.
www.palavranatela.net
Palavra I
A palavra que foi a primeira,
Foi a mais importante dos tempos,
A dona da ação verdadeira
Foi sopro na ausência de ventos
Som e ação da hora criada,
Foi palavra nascida inteira,
O amor principia a escalada,
Silencioso, à sua maneira.
A seguir, foi distribuída
Aos seres que a utilizariam
No intuito de ser lapidada,
A palavra que se falasse
Seria um gesto de cortesia,
Caso o uso assim dela fizessem...
Palavra II
Mas o tempo que traz lembrança
É o mesmo do esquecimento,
A fala aprendeu-se criança,
Mas o ato veio no crescimento.
E ela, que trazia confiança,
Perdeu-se no próprio momento,
Nada tinha de esperança,
Minguava a luz, crescia o tormento.
E o sentido, vindo da infância,
Associa-se a um complemento
Que furtou a palavra e a elegância,
Exaltou-se o lado egocêntrico,
Cresce a má fé, junta à arrogância,
Não existe mais contentamento.
Palavra III
Assim, toda palavra dita,
Percebida é como agressão,
Nunca mais se ouviu a bendita,
Não se dá mais a ela atenção.
Cada um traz a sua desdita,
Cindiu-se da palavra a ação,
Quando ouvida, sempre conflita,
E carrega imprópria emoção.
Aquele que lembra não esquece
Do momento da criação
A memória se compadece,
E renova a nova intenção:
Conquista é o que merece
Quem vive com obstinação...
Palavra IV
Porém só vontade não basta,
P’ra andorinha fazer verão,
O grupo maior sempre afasta
Quem enfrenta uma situação...
O rejeitado luta e arrasta
Essa sua firme convicção,
Vê que a sorte não é madrasta
E aprimora a sua boa dicção.
E tratando bem a palavra,
Sente uma certa emoção,
Nota que de si desencrava
Um bloqueio, uma inibição,
Que na sua garganta causava
Falha da comunicação.
Palavra V
Palavras sendo bem tratadas,
Retribuem com gratidão,
Fazendo-se multiplicadas,
Colocam-se à disposição.
E quem assume essa maneira,
Vai galgando sua posição,
Fruto de fazer verdadeira
A consciência da criação.
E sendo da palavra o amigo,
Ela mesma lhe ensina a forma
E nunca lhe negará abrigo,
No sufoco, vem e contorna
O problema, que é resolvido
Tão bem, que ao amigo conforma.(*)
(*) faz adequar-se, concilia.
Palavra VI
E o uso do vocabulário,
Provoca conscientização,
E não tem dono o relicário
Do baú que é só emoção.
Palavras farão o dicionário,
Essa precisa relação
Delas todas, pois do contrário,
Perder-se-ia sua intelecção.
Grande é a expressividade,
Histórica é a formação,
Nunca há falta de qualidade,
Resultam da depuração
Que o tempo teve liberdade
De ouvir o bom tom e o bom som.
Palavra VII
Palavra que se pronuncia,
Habita paragem do ar,
E nesse local vivencia
A espera até alguém lhe citar.
Ano ou mês, semana ou dia,
A espera é melhor que faltar,
Freqüência não é garantia,
Poderão se banalizar...
Bom uso é com parcimônia,
Fugir de se elitizar,
Seu uso só em cerimônias,
É o passo p’ra vê-la chorar,
Continua na mesma colônia,
Um dia dela irão se lembrar.
Palavra VIII
Palavras, se não escritas,
No seu princípio ficam
Boiando sobre o papel,
Simples ou eruditas.
Daí em frente, faladas,
Sujeitas são aos ventos,
Fator que a elas propaga,
E o sopro que as apaga.
Tônica faz o acento,
De toda que é esdrúxula,
De fábula e de bruxa,
Na lápide ou cimento,
Grafadas são, e, sem luxo,
Registram nascimentos.
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