INJUSTIÇA
Eu sou lágrima e sangue do escravo açoitado
por salvar seu senhor de um enorme perigo:
o livrou do pavor de morrer afogado.
Por ousar ser melhor, recebeu tal castigo!
Sou a carne comida de um pobre maloio
que salvou de um felino o feroz canibal
e tratou-lhe as feridas, serviu-lhe de apoio.
Pós curado, esse ingrato o devora, brutal!
Nestas veias fervilham insanas revoltas...
Nestas terras estéreis de secas recoltas
já não há mais o viço das flores, dos cios...
Coração que serviu tantos seres carentes
é mordido em caninos, finíssimos dentes
da injustiça, dos seus desencantos sombrios.