SOU A CHUVA

Quando eu chego no sertão, tudo se envolve:

Os pássaros se eriçam nas galhadas

E anunciam cantando minha chegada;

A cachoeira no vale se comove.

Quando eu chego no sertão, os ramos verdes

Se abrem num abraço me aceitando;

E as andorinhas no céu formam-se em bando;

E o velho camponês pula da rede.

Quando chego no sertão, às vezes, choro

Pela erva que morreu por minha falta,

Pela fome que deixei naquele foro.

Quando chego no sertão sinto que o homem

É cheio de soberba, e não imagina

Que um dia acabará morto de fome.

Geraldo Altoé

Geraldo Altoé
Enviado por Geraldo Altoé em 01/12/2006
Reeditado em 29/08/2007
Código do texto: T306954