SOU A CHUVA
Quando eu chego no sertão, tudo se envolve:
Os pássaros se eriçam nas galhadas
E anunciam cantando minha chegada;
A cachoeira no vale se comove.
Quando eu chego no sertão, os ramos verdes
Se abrem num abraço me aceitando;
E as andorinhas no céu formam-se em bando;
E o velho camponês pula da rede.
Quando chego no sertão, às vezes, choro
Pela erva que morreu por minha falta,
Pela fome que deixei naquele foro.
Quando chego no sertão sinto que o homem
É cheio de soberba, e não imagina
Que um dia acabará morto de fome.
Geraldo Altoé