COBRANÇA
Olha estas marcas em meu rosto, mundo meu!
Eu as sorvi da tua linda tez viçosa...
Enquanto amargo o emurchecer, te inveja a rosa
pelo puríssimo frescor do encanto teu!
Olha estes passos claudicantes, dote meu!
Pois carreguei teu fardo todo e cruz penosa,
a garantir-te o voo em asa esplendorosa,
nessa leveza que preserva o corpo teu!
Eu engoli as tuas lâminas afiadas
que me deixaram alma e vísceras cortadas...
Eu te salvei das tuas próprias investidas!
E tu me vês, agora, andrajo de mim mesmo...
Feridas ardem neste visgo em que me enlesmo...
E és tu que habitas cada ardor de tais feridas.