COBRANÇA

Olha estas marcas em meu rosto, mundo meu!

Eu as sorvi da tua linda tez viçosa...

Enquanto amargo o emurchecer, te inveja a rosa

pelo puríssimo frescor do encanto teu!

Olha estes passos claudicantes, dote meu!

Pois carreguei teu fardo todo e cruz penosa,

a garantir-te o voo em asa esplendorosa,

nessa leveza que preserva o corpo teu!

Eu engoli as tuas lâminas afiadas

que me deixaram alma e vísceras cortadas...

Eu te salvei das tuas próprias investidas!

E tu me vês, agora, andrajo de mim mesmo...

Feridas ardem neste visgo em que me enlesmo...

E és tu que habitas cada ardor de tais feridas.

Marco Aurelio Vieira
Enviado por Marco Aurelio Vieira em 25/06/2011
Reeditado em 21/04/2014
Código do texto: T3055721
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