A QUEM SERVEM AS FLORES?
Não há mais flores nos canteiros da cidade;
Além do asfalto, só tem postes e concreto,
Só tem na rua a fala crua e o desafeto,
Falta ternura, sobra loucura - maldade.
A calçada arde, a tarde é quente - um inferno!
O caminhar é bruto e a saudação escassa,
O sorriso é tão raro e a solidão, devassa,
Ainda dizem que tudo isso, hoje, é moderno.
Há falta de aconchegos - bancas e leituras,
A lua de outrora deita atrás dos prédios,
Sequer mais testemunha o trocar das juras.
Para aonde caminham esses vis senhores,
Que preterem as flores pelo concreto ardente,
Quais amadas rígidas lhes concedem amores?