Contraste
(De autoria do poeta Joaquim Machado de Araújo (1894-1976), nascido em Luziânia (Goiás), a 70 km de Brasília (DF). O escritor exerceu a magistratura e foi governador do seu Estado)
Eu, que pedra já fui na era primeira,
Filha das lavas de infernal cratera,
Depois mudada em grande gameleira,
Dei sombra à humilde planta, flébil hera.
Na eterna evolução que tudo altera:
Verme, vivi no lodo e na poeira;
Ave, no azul cantei a primavera;
Da criação corri a série inteira.
Hoje, rei da natureza, ser humano,
Calmo, consumo a vida, doce engano,
Na luta inglória, no sofrer ignavo.
Escravo da mulher, servo do amor,
Melhor ser pedra, verme arbusto ou flor,
Que rei da natureza - e ser escravo!