Contraste

(De autoria do poeta Joaquim Machado de Araújo (1894-1976), nascido em Luziânia (Goiás), a 70 km de Brasília (DF). O escritor exerceu a magistratura e foi governador do seu Estado)

Eu, que pedra já fui na era primeira,

Filha das lavas de infernal cratera,

Depois mudada em grande gameleira,

Dei sombra à humilde planta, flébil hera.

Na eterna evolução que tudo altera:

Verme, vivi no lodo e na poeira;

Ave, no azul cantei a primavera;

Da criação corri a série inteira.

Hoje, rei da natureza, ser humano,

Calmo, consumo a vida, doce engano,

Na luta inglória, no sofrer ignavo.

Escravo da mulher, servo do amor,

Melhor ser pedra, verme arbusto ou flor,

Que rei da natureza - e ser escravo!

Joaquim Machado de Araújo
Enviado por Onofre Ferreira do Prado em 15/06/2011
Reeditado em 27/11/2012
Código do texto: T3037136
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