MORTE NA GETÚLIO

Malgrado à sorte do machado enfurecido

Esquartejando o lenho em brutal sentença,

O seu último ligustro tombou despido

Pelo jugo incauto de acometer doença.

A Avenida se enluta vestindo concreto

E encobre a terra crua onde sangra o veio,

Abre seu ventre na ilusão de um novo feto

Mas engravida um poste que se finca ao seio.

Cinqüenta anos, foi um tempo um tanto longo,

Sequer o algoz rogou perdão ao dar o tombo,

Presente ingrato que lhe deu, tirando a vida.

Deixou-se abrir o clarão negro do asfalto

E o manto verde que se via lá do alto

Bordou de concreto o debrum da Avenida.

Nota: A Avenida Getúlio Vargas sendo "revitalizada". Ora, derrubar árvores é revitalizar? Postes e luzes artificiais têm vida latente?

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 07/06/2011
Código do texto: T3020147