CHAMAMENTO
A dor da perda é qual faca afiada,
Que fere, corta e marca a própria alma,
Sem ter aquele alento que a acalma,
Posto que o coração não vê mais nada.
Tal sofrimento não nos cobre a talma
D'uma consolação que, se tentada,
Não vê a esperança acalentada
Surtir efeito e o verso que se espalma
Jamais há de lograr o seu objeto
De ensinar à pobre espécie humana
O que requer uma sabedoria
Inexistente, ante a voz tão fria
Do fado - e o chamamento não se engana,
Mas fica vivo em nós o ser dileto.
Interação ao magistral soneto "Eternamente", da amiga e exímia poetisa Maria Cecília Hequidorne.