RESTO
Nefanda desventura desta vida,
tal faca a retalhar todo o meu ser...
Por que apanharmos tanto em bruta lida,
pra em menos de um segundo se morrer?
Minh'alma cospe sangue, combalida,
a gota de esperança a fenecer...
E toda paz, no mal, é carcomida,
requintes mui perversos do sofrer...
Preciso de um sentido pra avançar,
por essa insana saga, caminhar,
enquanto tarda ardente esse meu fim!
Voraz, me crava o dente o vil chacal,
pois só, sou resto cru, porção carnal.
Que a fera engula a dor que grita em mim!