DEPENDÊNCIA (Marco Aurelio Vieira) / PERFÍDIA (Milla Pereira)
Toco os florais azuis dos frios azulejos
que aliviaram, lisos, teus febris calores,
tua libido, orgasmos, lúbricos desejos,
naqueles voos de prazer, os teus ardores.
As digitais de ti cravadas nos sobejos,
nas sobras fartas das lembranças minhas, dores
que me estraçalham em faíscas, em lampejos.
Secou-me o corpo insulso, sem os teus sabores...
Estás em mim, nas plantas, móveis, nas paredes,
em minhas fomes, minhas graças, minhas sedes,
também nos livros, discos. Beiro o enlouquecer!
Na sala, a peça “O Pensador Atordoado”
reflete a imagem do que sou quando acordado,
enquanto estás no mais sereno adormecer.
***********************************************
Obrigado, querida poetisa Milla Pereira, pela gentil e maravilhosa interação. Quanta honra!
PERFÍDIA!
Vêm-me à lembrança os momentos tão intensos,
Que me perturbam a mente, perco o juízo.
O tempo pára, em volta tudo é impreciso
Em um espaço assustadoramente denso.
Meu corpo inerte, não reage, indefenso,
Parece contabilizar o prejuízo
De tua ausência. Lento, frágil e propenso
A dividir-se entre o inferno e o paraíso.
Minh'alma vaga no escuro deste quarto,
Regando as dores das quais nunca me aparto,
Enquanto a tua indiferença me entorpece...
Talvez exausto, apagaste a tua chama
Porquanto já te aqueceste em outra cama
E ao meu lado, combalido, adormeces!
Milla Pereira