VIRAVOLTAS

Na extensão sem limite e sem tamanho

do meu interior, busco e rebusco,

nos esconsos não vejo, ao lusco-fusco,

as estrelas perdidas, as de antanho.

Onde andará, não sei, o meu rebanho

de estrelas luz e sangue do molusco,

pai intelectual do avô etrusco

que se perdeu no tempo e eu não o apanho.

A menina dos olhos, orvalhada,

em coroa mudou-se, desbotada,

e as estrelas trocaram-se por círios...

Tudo se foi no caos, ponto por ponto,

restam, por lágrimas, que eu peso e conto,

as ilusões mudadas em martírios.

II

As ilusões mudadas em martírios,

são contas de um rosário pequenino,

que debulho nos dedos do destino,

enfiadas no cordão do pensamento.

Não paro de torcer, nos meus delírios,

essas ave-marias dos empíreos,

mistério por mistério sibilino.

Além, no tempo, o sino triste e frio...

É a hora em que desmuda o meu tormento

de homem, no pó, depois, noutro elemento

que vai se fecundar em novo cio...

Quando eu voltar, quando outra vez voltar,

hei de ter as estrelas em colar,

pendentes do alto mastro do navio.

III

Pendentes do alto mastro do navio

as estrelas que achei pelos caminhos.

No registro mental, os pergaminhos

acumulados como o tempo os viu.

Chego afinal. Rompi inverno e estio,

andei por tenebrosos remoinhos,

venci penedos, e ébrio de mil vinhos,

sangrei na tempestade em mar bravio...

Irei de novo, creio, eu creio assim:

em retorno ao molusco de onde vim,

à podridão do lodo e a novo fio...

Mas nessa viravolta de torneios,

sem ter de luz, embora, os bolsos cheios,

não hei de ter o cérebro vazio.