À DERIVA
Em dias tristes, chuvosos e frios,
vou navegando no barco à deriva
dos meus pesares, penares sombrios,
torpe passado que ao peito se aviva.
Sempre tão só e engolindo meus brios,
ai, me arde tanto, oh, que dor corrosiva!
Minhas lembranças desaguam seus rios
cheios, na chuva a alagar vingativa...
Oh, frustração que afiada me fura
e queima tanto que beiro a loucura,
vai latejando lá dentro, a malvada.
É muito frio e essa chuva tão forte
e eu no meu barco a viver minha morte
assim, sem rumo, sem remo, sem nada.