FERA ENJAULADA
FERA ENJAULADA
como uma onda raivosa, que estoura em penedos,
debate-se essa fera em meu peito – é um jaguar.
rouquenho e vil, morde as grades da alma a sangrar,
e lança olhares de gula além dos rochedos.
densa saliva mistura às águas do mar
e a alma que prende a fera protege segredos;
junto com ela esconde comboios de medos.
fareja a fera a fêmea, que em vão quer amar.
leva a vida a sonhar nesta vã existência,
até que o tempo apague libido e potência
... e o morto vivo se esqueça do verbo amar.
solidão e tristeza consomem a vida,
que habita a mente da fera e a faz abrasiva
o odioso senil, quiçá, a possa acalmar.
Afonso Martini
070511