FERA ENJAULADA

FERA ENJAULADA

como uma onda raivosa, que estoura em penedos,

debate-se essa fera em meu peito – é um jaguar.

rouquenho e vil, morde as grades da alma a sangrar,

e lança olhares de gula além dos rochedos.

densa saliva mistura às águas do mar

e a alma que prende a fera protege segredos;

junto com ela esconde comboios de medos.

fareja a fera a fêmea, que em vão quer amar.

leva a vida a sonhar nesta vã existência,

até que o tempo apague libido e potência

... e o morto vivo se esqueça do verbo amar.

solidão e tristeza consomem a vida,

que habita a mente da fera e a faz abrasiva

o odioso senil, quiçá, a possa acalmar.

Afonso Martini

070511

Afonso Martini
Enviado por Afonso Martini em 07/05/2011
Reeditado em 07/05/2011
Código do texto: T2954556
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