TRÊS SONETOS
(Estes três sonetos vêm de 1963). Os homenageados
Agente Fiscal do Imposto de Consumo, aposentados,
compareciam à antiga repartição de trabalho para uma visitinha aos ex-companheiros. Ao final do expediente eu os punha em meu carro e ia deixar em casa. Que saudade, João, que saudade!
I - ROSA SEM ESPINHOS
Ao colega aposentado Maximiniano Ramos de Queiroz
De primavera sobre primavera...
- Queiroz, meu velho amigo, eu não sabia,
Que a sua idade a tanto assim já ia,
Que você vem de tão longínqua era.
O tempo anda e quando não se espera...
Um dia na esperança de outro dia...
- Quem nos diria, amigo, quem diria?
Já somos velhos e de idade austera!
- Que gosto eu sinto, de saber que esperto
Ele vai indo - e há de bem ir por certo,
A porção de janeiros, meu amigo.
Que gosto, de render-lhe esta homenagem,
À rosa sem espinhos, velho pajem,
- Fazendário do rei em tempo antigo!
II - MOÇO EM FLOR
Bendito seja o que sorri na idade
Sem ódio, sem temor, sem preconceitos.
Bendito o que não chora a mocidade,
Mas canta na velhice os velhos feitos.
Um desses de quem privo da amizade,
Envelheceu cantando em sons perfeitos;
Diz que é feliz e que a felicidade
É a luz do amor, a paz dos satisfeitos.
Tem sobre os ombros, no correr dos anos,
Oitenta e seis janeiros de sorriso,
Durante os quais, não conta os desenganos.
O bem que há feito, conta, conta o amor,
Conta a alegria, conta o paraíso
De quem sendo provecto - é moço em flor!
III - PROVECTO E MOÇO
Ao colega aposentado Durval de Jesus
Oitenta anos feitos, este moço
Fino e elegante! A alegre e suave fala
Atrai ouvintes, contagia, embala,
No entusiasmo da expressão colosso.
Rijo e aprumado, altivo ergue o pescoço
Na casa de trabalho, sala em sala,
No bate-papo amigo atende à escala.
Tem óleo de baleia no reboço!
Vistoso no engomado terno branco,
Provecto e moço, riso sério e franco,
- Cultura e inteligência em plena luz.
Suponho sua vida um mel de abelha
Em paz e amor, em todo bem que espelha.
Honrando o nome - eis o Durval Jesus!