PÁSCOA DE SOLITUDE
PÁSCOA DA SOLITUDE
Se ouço, onde não há aves, doce pipilar de hinos;;
se onde há só areia e sal, da flor nasce o perfume;
porquanto o escuro me cerque, há intenso lume,
é porque pressinto os encantos femininos.
Quando em plena guerra há do carinho o costume,
mas, se a solidão devora e não tenho mimos,
sinto na paz a guerra e os ataques ferinos
da dor do abandono e de vazios inchumes.
A solitude é acre qual um câncer imundo,
mata de pouco em pouco... e a dor é tão profunda
que faz ganas de ver-me defunto de vez.
Mas como só a Deus pertence o destino da vida,
A alma no eco silente se encolhe esquecida
... e o corpo sofre co’a homérica viuvez.
Afonso Martini
240411