“Contraposta”
(Luiz Henrique)

Há uma tristeza inamovível, doída e serena
Como se fora dedicatória numa fotografia
A que o tempo implacavelmente condena
O desbotamento gradual de nobre caligrafia

Há uma tristeza que não vem da gente
Vem da vida moderna em suas desesperanças
Das catástrofes que ceifam vidas de repente
E das incertezas quanto ao futuro das crianças

Há uma tristeza quase que generalizada
Por ter-se perdido no caminho o crivo moral
A ética e o senso de humanidade valem nada
E seguiremos assim em silenciosa solidão social

Há uma tristeza doída pairando nesta noite fria
Contraposta por renitente e demencial vocação para a alegria

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